E a luta das mulheres ao longo da história

por Catharina Gaidzinski

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Foto: Reprodução.

O feminismo já passou por diversas mudanças desde o seu surgimento e, até hoje, não se constitui como um movimento homogêneo, englobando variadas formas de luta, opiniões e subclassificações. Essa ideologia, em resumo, sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos, e tem sido necessária tanto para proteger mulheres, quanto para garantir direitos básicos, como o de voto, divórcio e estudo, e para reivindicar tratamentos equânimes entre homens e mulheres.

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Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, pautada na dominação masculina e no machismo estrutural, e, por esse motivo, o feminismo tem sido essencial para nos ajudar a reivindicar nosso espaço no setor público e nossa voz ativa como mulheres. Ao longo da história, as mulheres se organizaram coletivamente diversas vezes para buscar seus direitos.

Por mais que não seja possível determinar a data correta em que o feminismo foi instituído, existem alguns eventos que podem ser considerados como suas primeiras manifestações históricas, por mais que, antes disso, já houvessem existido mulheres à frente do seu tempo que buscavam subverter a cultura machista na qual estavam inseridas, como Joana d’Arc, Cleópatra, Mary Shelley e Hipátia. Mesmo assim, o movimento feminista é dividido, fundamentalmente, em quatro ondas:

A primeira onda feminista

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Por conta do êxodo rural e da Revolução Industrial, entre os séculos XIX e XX, as mulheres começaram a conquistar mais liberdade para trabalhar, devido às grandes demandas das fábricas, já que muitos homens tinham ido servir na Segunda Guerra Mundial. Em 1943, foi posta em prática a campanha com o famoso slogan “We Can Do It!”, ou, em tradução literal, “Nós Podemos Fazer Isso!”, que tinha como objetivo central incentivar as mulheres a assumirem papéis antes pertencentes somente aos homens e atraí-las para o mercado de trabalho durante a guerra.

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Mas, mesmo tendo adquirido o direito de ocupar novas posições na sociedade além da vida privada como donas de casa, essas mulheres ainda sofriam de condições de trabalhos inumanas: possuíam jornadas de mais de 12 horas diárias, sofriam assédio sexual e espancamentos nas fábricas, recebiam salários muito inferiores aos homens para a realização das mesmas tarefas, e ainda tinham de realizar todo o trabalho da casa após a jornada de trabalho, o que, então, culminou para a chamada jornada dupla.

Segundo dados do IBGE publicados em 2018, infelizmente, a jornada dupla feminina ainda é muito comum: 93% das mulheres brasileiras precisam dividir seu tempo entre o trabalho assalariado e o trabalho doméstico. Além disso, elas trabalham quase o dobro, ou dez horas a mais, do que os homens em casa por semana, recebendo pouca ajuda nas tarefas domiciliares. Não suficiente, as mulheres ainda sofrem pela desigualdade salarial: Em 2020, o salário médio feminino era de 3.940 reais, enquanto o masculino era de 4.414 reais, de acordo com uma pesquisa publicada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

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Por conta das condições ruins de trabalho, da misoginia nas fábricas e da desigualdade entre homens e mulheres com os mesmos cargos, as trabalhadoras da primeira onda começaram a se reunir em manifestações para reivindicar melhores condições trabalhistas. “Em um primeiro momento, reivindicava-se a igualdade jurídica, o direito ao voto e o acesso à instrução e às profissões liberais, além da oposição a casamentos arranjados e à propriedade de mulheres casadas por seus maridos”, explica Veronica Homsi Consolim, analista jurídica da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Em oito de março de 1857, operárias de uma fábrica têxtil de Nova Iorque entraram em greve para pedir a redução das jornadas de trabalho de 16 horas diárias para 10. Além disso, queriam pagamentos igualitários, já que recebiam somente um terço do salário dos homens. No entanto, a manifestação foi reprimida com violência: trancaram as operárias na fábrica e as incendiaram. Esse episódio serviu de base para a criação do Dia Internacional da Mulher, comemorado ainda hoje no dia oito de março, a partir da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, organizada em Copenhague, na Suíça, em 1910.

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O livro “Mulheres Na Luta: 150 Anos em Busca de Liberdade”, escrito por Marta Breen e Jenny Jordahl, busca explicar os processos pelos quais o feminismo se deu, elucidando e ilustrando todas as conquistas das mulheres até os dias atuais. No primeiro capítulo do livro, é posta em pauta a presença das mulheres na luta contra a escravidão. Toma-se, então, como ponto de partida, o ano de 1840 na Inglaterra, onde foi realizado um congresso para a abolição da escravidão, assunto pelo qual as mulheres da época se interessavam bastante. No entanto, as mulheres que tentaram participar do congresso foram proibidas de se posicionarem, tendo de ficar atrás de uma divisória e somente ouvir o que os homens tinham a dizer.

O livro conta que, pouco tempo depois, em 1948, Lucretia Mott e Elizabeth Cady Stanton, duas abolicionistas feministas, ajudam a despertar a desigualdade vivenciada por mulheres no país ao escrever um manifesto baseado na Declaração de Independência dos EUA, de 1776. A declaração foi apresentada na cidade de Seneca Falls, em Nova Iorque, e assinada por aproximadamente cem pessoas, tanto homens quanto mulheres, fazendo com que o evento fosse considerado a primeira convenção do movimento feminista.

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Ainda na Inglaterra, no final do século XIX, as mulheres se reuniram para lutar pelo seu direito de voto, constituindo uma das rebeliões mais emblemáticas e importantes da história do feminismo, o chamado Movimento Sufragista. No ano de 1897, a inglesa Millicent Fawcett fundou a União Nacional Pelo Sufrágio Feminino, mas foi só em 1903 que foi criada a União Social e Política das Mulheres, pela ativista política Emmeline Pankhurst, que instituiu ações radicais e intensas para a quebra de paradigmas. As mulheres que aderiram ao movimento social ficaram conhecidas como suffragettes, e incentivaram diversas manifestações na cidade de Londres que incluíam, inclusive, greves de fome, bloqueio de ruas e incitações de incêndios.

As suffragettes entregavam cartas formais pedindo sua participação ativa na política e assembleias legislativas, mas eram descaradamente ignoradas. Essas mulheres, brancas, tanto trabalhadoras quanto de classe média alta, reivindicavam sua liberdade financeira e econômica, independente dos maridos, e a presença política por meio do voto, constituindo, assim, a primeira onda do feminismo. No entanto, o voto só foi concedido às mulheres na Inglaterra no ano de 1918.

O primeiro país do mundo a reconhecer o voto feminino democraticamente foi a Nova Zelândia, em 1893, a partir das lutas lideradas pela militante Kate Sheppard. No Brasil, as suffragettes foram lideradas pela cientista Bertha Lutz, uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, e conquistaram o direito de voto em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas. Mesmo assim, o voto feminino não estava livre de restrições: somente mulheres casadas, viúvas ou independentes podiam votar, excluindo as mulheres divorciadas ou sem renda. Em 1934, essas restrições foram finalmente ultrapassadas, e o voto foi concedido a todos os brasileiros maiores de 18 anos.

A segunda onda feminista

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A segunda onda do movimento feminista se iniciou na década de 1960, concomitantemente à grandes mudanças no paradigma no cenário mundial: as manifestações estudantis e os movimentos antiguerra, anticapitalista, hippie e vegetariano. Enquanto, na maior parte do mundo, as mulheres já possuíam alguns direitos alcançados, como o de trabalho e de voto, nesse momento, colocava-se em pauta a luta por direitos reprodutivos e sexuais femininos. Essa década ficou marcada pela revolução sexual, a partir do hedonismo e da criação do primeiro anticoncepcional, e as mulheres passaram a questionar a designação dos papéis de mães e donas do lar, pondo em pauta, inclusive, o aborto e a liberdade de escolha.

“No período das duas guerras mundiais, milhares de mulheres assumiram postos de trabalho considerados masculinos, tanto na Europa quanto nos EUA. Atuaram como bombeiras, mineiras, condutoras de transporte público, mecânicas, metalúrgicas, além de produzirem alimentos, atuarem na indústria têxtil e no campo da saúde. No intervalo entre as guerras, políticas natalistas foram implementadas e o tema da maternidade ocupou um lugar central nas discussões públicas e feministas de muitos países, dividindo opiniões. As lutas feministas ora avançavam, ora estagnavam”, escreve Ilze Zirbel, Doutora em Filosofia pela UFSC, ao Blog de Ciência da Universidade Estadual de Campinas, em 2021.

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“O pensamento em torno do que significava ser mulher estava mudando, desde o anticoncepcional até a questão da sexualidade feminina. O sexo não mais entendido apenas como ferramenta de procriação, mas fonte de prazer, inclusive para as mulheres”, explica a historiadora Patrícia Batalha Simão, ao portal AzMina, em janeiro de 2020.

Além disso, lutava-se pelo direito de denunciar os cônjuges por estupro, já que o sexo, aé aquela época, era visto como obrigação para uma mulher dentro do casamento. Infelizmente, há muitas pessoas que ainda acreditam nessa premissa machista até hoje. “Esse misto angustiante entre prazer e nojo, prazer e dor, entre se sentir excitada e ao mesmo tendo subjugada e não querer isso, é uma reprodução cultural e tem um componente de aprendizado nesse tipo de cena, infelizmente, que faz com que algumas mulheres que vivem isso dentro do relacionamento não consigam perceber como violência e entendam como normal” esclarece a terapeuta sexual Ana Canosa, ao portal Greenme, em 2020, em relação ao estupro marital.

“O pessoal é político”. Foto: Reprodução.

Também na segunda onda, instituiu-se o slogan “O pessoal é político”, da autora e ativista feminista Carol Hanisch, e uma série de estudos acerca da raiz da opressão feminina foram realizados, colocando em prática um tipo de feminismo denominado de feminismo radical, que significa, literalmente, “de raiz”. Além de lutar por causas de liberdade sexual, as feministas da segunda onda também protestavam contra a objetificação da mulher, principalmente por meio de protestos contra os concursos de beleza e Miss Estados Unidos.

A terceira onda feminista

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No início da década de 1990, iniciou-se a terceira onda do feminismo. Nessa fase, perduraram as discussões sobre o papel da mulher na sociedade e as lutas sexuais. No entanto, as novas feministas ainda se sentiam muito reprimidas e insatisfeitas com as conquistas e ideologias da segunda onda. Por isso, foram postas em práticas novas discussões, acerca, principalmente, do estereótipo feminino retratado pela mídia, da imposição de padrões de beleza inalcançáveis, da heteronormatividade e da impossibilidade das mulheres de adentrar campos de trabalho e estudo ainda muito masculinizados. Durante a década de 1990, ocorreu também o movimento punk chamado de Riot Grrrl, pautado em questões feministas de terceira onda e que expressava todo o caráter transformador que as mulheres da época pregavam a partir da música e da arte independente.

Além disso, inserido em um contexto de quebra de paradigmas, grandes mudanças políticas e novas perspectivas sociais, o movimento buscou questionar o padrão branco e de classe média-alta feminista. Utilizando de diferenças como classe social, raça, idioma, nacionalidade e orientação sexual como catalisadoras para a luta, as feministas da terceira onda propuseram um movimento mais igualitário e justo para todas as mulheres. A partir desse olhar crítico, o feminismo repensou suas ações, suas discussões e sua ética, e se consolidou com novas ideias e estratégias, evoluindo bastante e agregando muito mesmo para os dias de hoje.

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Com as primeiras aparições da internet que ocorriam nessa época, ocorreu também uma revolução no mercado da comunicação, o que possibilitou a participação ativa de grupos anteriormente excluídos ou marginalizados, — como as próprias feministas —principalmente a partir de fóruns na internet e e-zines, revistas independentes eletrônicas. Essas mulheres, além de lutarem pelos seus próprios direitos, também participavam de discussões sobre racismo, padrões de gênero e classe. Por esse motivo, o feminismo de terceira onda deu espaço ao feminismo negro e interseccional*, pondo em pauta a relevância do protagonismo das mulheres pretas para a construção de um movimento mais forte e unido.

De fato, a segunda onda foi responsável por diversas mudanças visionárias e pela conquista de variados direitos para as mulheres, e, assim como essas feministas, as mulheres da década de 90 também buscavam por inúmeros direitos, mas, dessa vez, pregando a subversão de estereótipos femininos ao utilizar símbolos da feminilidade antes evitados — como saltos, maquiagem, saias e vestidos — para motivar a liberdade feminina, e inclusive, sexual. As novas feministas também se apropriaram de termos antes machistas, como “vadia” e “puta”, e os incorporaram à luta, retirando seu caráter necessariamente negativo e os transformando em ironia e posição política. O combate à prostituição e à pornografia, muito levantado pelas feministas das décadas de 1960 a 1980, foi, então, deixado de lado, dando espaço à um feminismo liberal.

A partir disso, as feministas começaram a focar na modificação de estereótipos, como a retratação da mulher na mídia de massa e os termos utilizados para definir mulheres. Em detrimento de um “feminismo vítima”, essas feministas buscavam identificar a raiz de seus problemas e os reinventar. Além disso, a terceira onda também ajudou a redefinir o conceito de ser mulher fora de estereótipos unilaterais ou dicotômicos, como virginais, masculinizadas ou objetificadas. A partir daí, elas se viam e se auto intitulavam como assertivas, empoderadas e independentes. Alguns exemplos práticos dessa nova visão feminista são a Madonna, as Spice Girls, a série de TV “Sex And The City”, as novas heroínas da Disney — como a Mulan — e a peça teatral “Os Monólogos da Vagina”, lançada em 1996 pela dramaturga feminista norte-americana Eve Ensler.

A quarta onda feminista

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Embora sua existência ainda seja debatida por estudiosos, o feminismo de quarta onda surgiu a partir da década de 2010 e é caracterizado pela utilização em massa da internet e das redes sociais, através de plataformas como o Instagram, o Facebook e o Twitter. Nessa nova onda, são postos em foco o assédio sexual, a cultura do estupro, os padrões estéticos exigentes, a hipersexualização feminina os nos jogos e quadrinhos, o combate à pornografia e até ao trabalho sexual, muito possibilitado atualmente por serviços de assinatura, compra e venda de conteúdo adulto, como a OnlyFans.

Mesmo que as pensadoras feministas ainda não tenham firmado um acordo acerca da existência do fenômeno, a quarta onda é descrita como tipicamente latino-americana por Cecília Palmeiro, especialista em gênero e co-criadora do movimento argentino “Ni Una Menos”, ou, em tradução literal, “Nem Uma a Menos”. O mote do grupo é “nem uma morta mais, nem uma mulher a menos”, verso do poema — que também deu o nome à organização civil — “Ni Una Menos”, da mexicana Susana Chávez, escritora e defensora dos direitos humanos que foi assassinada em 2011 por denunciar crimes contra as mulheres, como o feminicídio.

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Em 2017, ocorreram grandes manifestações feministas da quarta onda, como a Greve Internacional de Mulheres — mais conhecida como “Paro Internacional de Mujeres”, inspirada na paralisação argentina que se deu após o estupro e a execução brutal da adolescente Lúcia Perez — e a “International Women’s Strike”, que atraiu mais de 55 países. “Não houve um país latino-americano que não aderiu à Greve Geral e ao Paro Interacional de Mulheres. Estávamos todas ligadas nas mesmas questões, crescemos muito com esse diálogo e conseguimos ampliar vozes que não tinham um lugar privilegiado no feminismo”, explica Palmeiro à Revista Cult no mesmo ano.

No Brasil, — por mais que o país seja o 5º do mundo no ranking de feminicídios, de acordo com dados publicados pela Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) — a quarta onda tem ficado cada vez mais evidente com a institucionalização de pautas feministas, abordadas e defendidas por medidas legítimas, como a Lei Maria da Penha, a PEC das Domésticas e a Lei do Feminicídio. Aqui, também ocorrem diversos movimentos anuais pelo direito das mulheres, como a Marcha das Vadias, os atos de 8 de março e até as manifestações em prol de Marielle Franco, socióloga, ativista feminista e ex-vereadora do Rio de Janeiro assassinada em um atentado em 2018.

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Em 2020, foi criada pela família da vítima uma organização sem fins lucrativos, intitulada de Instituto Marielle Franco, que tem como missão “inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade por um mundo mais justo e igualitário”. Você pode conhecer mais sobre a história de Marielle e sua luta acessando esta HQ exclusiva produzida pelo Instituto.

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De acordo com a professora Marlise Matos, que aprofunda o conceito das novas feministas na sua pesquisa “A Quarta Onda Feminista e o Campo Crítico-Emancipatório das Diferenças no Brasil”, existem cinco características que podem nos ajudar a caracterizar esta nova onda feminista ao redor do globo. A primeira é o aprofundamento da concepção de direitos humanos, que leva em conta informações como classe social, raça, gênero e orientação sexual; a segunda, a amplificação de mobilizações sociopolíticas, como a Marcha Mundial das Mulheres.

A terceira característica é o que é denominado de sidestreaming feminista, perspectiva que reforça discussões acerca de outras discriminações além do gênero, como etnia, geração, religião, classe ou nacionalidade; a quarta, o mainstreaming feminista, ou a visibilidade popular do movimento para o público e instituições; e a quinta, a teoralidade mais interseccional e inclusiva do movimento, com o objetivo de superar diversas opressões que estão interligadas ao sistema patriarcal.

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Hoje em dia, com a disseminação de conteúdos extremamente rápida da internet, o acesso fácil e a um clique com os smartphones, mais mulheres buscam se informar sobre o movimento e começam a se entender como feministas. No entanto, enquanto o movimento se fortalece e se pluraliza, as críticas, as notícias falsas e a desinformação também aumentam. Por esse motivo, hoje, as feministas buscam a legitimidade do termo “feminismo”, que tem sido muito confundido com o que é corriqueiramente chamado de “femismo” — a superioridade das mulheres sobre os homens — além de emancipação feminina e o ciberativismo, que busca combater Fake News e diversos preconceitos de forma virtual e abrangente.

Emma Watson sobre o feminismo para a ONU

“Quanto mais eu falo sobre feminismo, mais eu tenho percebido que lutar pelos direitos das mulheres tem virado, frequentemente demais, sinônimo para odiar os homens. Se tem uma coisa que eu sei, com certeza, é que isso tem que acabar” explica a atriz Emma Watson em seu discurso — que foi aplaudido de pé — numa Conferência da ONU em 2014, evento especial de lançamento da campanha da ONU mulheres “HeForShe”, um movimento de solidariedade pela igualdade de gênero que convida homens e meninos a ajudar a acabar com as desigualdades enfrentadas por mulheres e meninas em todo o mundo.

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Fora do país, existem também diversas outras manifestações político-sociais da quarta onda, como o movimento “#MeToo”, em Hollywood, as passeatas ao redor de todo o mundo com o slogan “My Body, My Choice” — que busca reivindicar a liberdade e o direito coletivo das mulhers sobre os seus próprios corpos, como nas suas escolhas sexuais, de vestimenta, de consento e de aborto — e até a criação de conteúdos feministas, como o vídeo norte-americano “Seja uma dama, eles disseram”, baseado no poema de Camille Rainville, de 2017, que narra exemplos de frases contraditórias, cheias pressões sociais e estéticas, que as mulheres contemporâneas ainda escutam pelo mundo.

“Seja uma dama, eles disseram”.

Sua saia é muito curta, sua camiseta é muito pequena, não mostre tanta pele, cubra-se, deixe algo para a imaginação. Não seja sedutora, os homens não conseguem se controlar, os homens têm necessidades. Seja sexy, seja gostosa, não seja muito provocante, você está pedindo”, são algumas das frases de efeito controladoras das mulheres narradas pela atriz Cynthia Nixon (Sex And The City) no filme da revista estadunidense “Girls. Girls. Girls.” O vídeo, que foi publicado no dia 23 de fevereiro de 2020, já conta com diversas interpretações de diferentes mulheres ao redor do mundo e foi reproduzido milhões de vezes nas redes sociais, tornando-se um ícone viral do feminismo de quarta onda.

Além disso, durante a ascensão da nova onda, tivemos a criação de um novo vocabulário feminista, que conta com diversos termos e denominações na língua inglesa, como:

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Mainsplaning: denominação que fez sucesso a partir da publicação do livro “Os Homens Explicam Tudo para Mim” (2014), da estadunidense Rebecca Solnit, e que significa o ato masculino de querer explicar algo para uma mulher, mesmo quando ela já sabe sobre o assunto, subestimando a inteligência feminina.

Manspreading: termo utilizado para denominar homens que abrem demasiadamente suas pernas quando sentados em lugares públicos, como transportes públicos, deixando pouco espaço para as mulheres se moverem e se sentirem confortáveis.

Gaslighting: apesar de não ser exclusivo do movimento feminista, se relaciona a ocasiões nas quais um agressor, frequentemente homem, faz sua vítima, geralmente uma mulher, questionar sua própria inteligência, sanidade ou memória, chamando-a de louca (entre outros termos) e tentando desqualificar suas opiniões ou percepções.

Manterrupting: significa a atitude de um homem de interromper uma mulher repetidas vezes, sem deixar que ela conclua sua fala ou pensamento. O termo ganhou destaque depois que um estudo da Universidade de Yale evidenciou que senadoras americanas se pronunciam substancialmente menos do que seus colegas de profissão homens, mesmo os de posições inferiores.

Livro “Clube da Luta Feminista”. Foto: Reprodução.

Se quiser conhecer mais sobre esses termos, que são muito utilizados nos ambientes públicos e profissionais, recomendo o livro “Clube da Luta Feminista”, que serve como um manual de sobrevivência para mulheres em ambientes de trabalho machistas e dá diversas dicas de como se posicionar firmemente sem ser taxada como “a louca”.

E, se estiver buscando conhecer mais a fundo sobre o feminismo, recomendo os livros “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, “O Feminismo é Para Todo Mundo”, de bell hooks, “Sejamos Todos Feministas”, de Chimamanda Adichie,”Lute Como Uma Garota”, de Laura Barcella e Fernanda Lopes, “Mulheres Na Luta: 150 Anos em Busca de Liberdade”, de Marta Breen e Jenny Jordahl, “Feminismo em comum: Para todas, todes e todos”, de Marcia Tiburi, “Mulheres Que Correm Com Os Lobos”, de Clarissa Pinkola Estés e autoras como Angela Davis, Virginia Woolf, Lélia Gonzales e Djamila Ribeiro.

Coletânea “O Segundo Sexo”. Foto: Reprodução.

Nota de rodapé: *A interseccionalidade foi um conceito introduzido em 1989 por Kimberlé Crenshaw, militante norte-americana e especialista nas teorias de gênero e raça, que visava funcionar como uma ferramenta de luta para mulheres que não se sentiam somente oprimidas pelo machismo, mas também por questões de raça, classe e sexualidade. Essa ideologia ajudou a quebrar barreiras para que todas as mulheres fossem aceitas no feminismo, universalizando o movimento e reconhecendo variadas opiniões, visões de mundo e vivências.

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