ENTREVISTAS

LYYA fala sobre experiência pessoal com o amor em novo single “Fashion”.

por Catharina Gaidzinski

COMPARTILHE

LYYA é uma cantora, produtora e multi-instrumentista de 21 anos, nascida e criada em São Paulo. Aos dez anos, a musicista começou a tocar guitarra, e aos 18, a produzir. Em 2022, ela lançou seu single de estréia, “Sobre o Tempo”. Agora, a artista anuncia uma fase mais pop e pessoal da carreira, com letras e significados profundos, mas ainda sem abandonar a vibe indie, as distorções e as referências rockeiras.

Afinal, ela conta que o rock sempre foi muito presente na sua vida: aos cinco anos, começou a ouvir o gênero por influência do tio e, desde muito novinha, já tinha vontade de aprender guitarra e ser uma rockstar. “Eu sempre gostei muito da energia do rock, e eu nunca vou abandonar isso nas minhas músicas”, conta.

“Fashion”, segundo single da carreira, traz um compilado de referências da musicista paulistana, além de uma discussão interessante sobre amor jovem, culpa e desencontros. Inspirada por uma separação inesperada, com direito à mudança para o exterior, o single narra a história de um relacionamento que teve com um amigo de longa data, e que contou com inúmeras idas e vindas.

“A música se trata de uma coisa mais pessoal, um relacionamento que virou música. Ela fala um pouco sobre culpa e também de se libertar. No futuro, eu quero falar mais sobre isso. Além dos sons, sintetizadores, guitarras e baterias que se encontram, para mim, a letra ser pessoal, é muito importante”, expõe.

“A música é uma homenagem, um pedido de desculpas e uma reflexão sobre culpa.”

Como aposta estilística, LYYA escolheu diversificar e trazer uma letra inteira em inglês, ao contrário do que fez no single de estreia. Segundo a cantora, a escolha deste elemento aconteceu porque ela e a pessoa a quem a canção é destinada sempre conversavam em inglês, em tom de brincadeira. “Depois, ele se mudou para os Estados Unidos. Por isso, eu queria que ele ouvisse a música em inglês”, esclarece.

Desse modo, com “Fashion”, LYYA faz uma “indireta” musicada, que de indireta não tem nada. Isso porque a capa do single – assinada por Violet Orlandi e Ricardo Gifford – traz uma foto de quando os dois eram crianças. Além disso, Fashion também é o sobrenome do amigo. “Basicamente, o nome do single é dele e a capa também é ele”, ela explica.

You were gone 
And I’m here writing sad songs”
– Fashion (2022).

Quais foram suas principais inspirações e referências desde o começo e quais são elas hoje em dia? Mulheres fazem parte disso?

LYYA: As minhas principais referências e inspirações contemplam muitas mulheres. Principalmente artistas que produzem, tocam e cantam. Eu fui abraçada por uma comunidade de mulheres para aprender a produzir música, e eu sou muito grata por elas. Uma dessas líderes, que sempre foi muito importante para mim, é a Maggie Rogers. Ela é maravilhosa, uma produtora incrível. 

O que mais te inspira a criar?

LYYA: Tudo me inspira (risos). Mas muito vem de eu observar o momento e as minhas reflexões internas. Obviamente, tudo que acontece na minha vida vira uma produção criativa ou artística. Eu estou sempre, constantemente, criando. E recentemente, eu também comecei a criar alguns tempos de criação, uniformizando ele um pouco, porque sempre pareceu muito esporádico. Com o meu trabalho, às vezes você tem que sentar numa cadeira e ser criativo, porque é a hora do dia que você tem. E está tudo bem. Não perde a magia.

Como foi o processo de produção da faixa?

LYYA: Produzir a faixa foi maravilhoso, porque foi a primeira que eu produzi sozinha. Mas aí, depois chegou um ponto que eu não sabia mais o que fazer com ela, e então eu a levei para o meu amigo Ricardo [Gifford]. Aí ele co-produziu, e a gente também regravou um monte de coisa. E foi maravilhoso, foi incrível poder compartilhar esse momento. O trabalho em equipe sempre é muito rico, e gera coisas muito novas e muito boas.

Desde o começo da sua jornada na música, percebeu diferenças de tratamento entre você e seus colegas de profissão homens?

LYYA: Sim, desde o começo percebi um tratamento diferente do que com os meus outros colegas [homens]. Sempre que eu entrava numa sala, as pessoas achavam que eu era a cantora. E tudo bem, eu aprendi a conviver com isso, mas eu sempre soube que eu queria ser mais. Eu também ouvi de muitas pessoas que eu deveria desistir da música, e que os meus colegas deveriam ir para a universidades. Hoje em dia, eu sei que isso está totalmente relacionado com o machismo, porque [a indústria musical] é um ambiente muito difícil.

“Ouvi de muitas pessoas que eu deveria desistir da música, e que os meus colegas deveriam ir para a universidades.”

Em depoimento para o About a Grrrl no ano passado, LYYA também confessou: “Todo mundo fala que música não é uma profissão fácil, mas quando se é mulher é imensamente mais difícil trabalhar na indústria musical. Falaram que precisaria de uma banda de homens para ter sucesso, que produção musical era uma profissão masculina, que era sensível demais para enfrentar essa dura indústria. Hoje, sabendo que nenhuma dessas afirmações é verdade, e fortalecida pelas mulheres que, como eu, escolheram essa indústria, sinto forças e fui enfrentar o mundo da produção musical. Agora, cabem todas as Lias, a guitarrista, a produtora, a cantora, a artista.”

O que você considera como luta feminista no meio da música? 

LYYA: Para mim, a luta feminista no meio da música ainda é muito presente. O mais importante é empoderar as meninas a fazerem as coisas que a gente é sempre dita para não fazer: tocar uma guitarra, pegar num computador, produzir música e aprender. Eu acho que o feminismo tem muita força, e muita gente dentro da indústria apoiando. Eu, por exemplo, recebi uma bolsa de estudo nessa comunidade de produtoras nos Estados Unidos, e eu acho que isso é muito importante. Mas também é importante poder compartilhar o conteúdo e trazer o interesse [das mulheres] para essas outras áreas da música, e tratar todo mundo igual.

Como você acha que podemos chegar a uma verdadeira equidade dentro da indústria?

LYYA: Eu acho que o único jeito que a gente vai chegar aí é trabalhando e construindo a partir da educação, e também trazendo mais minas pra música, inspirando. Quanto mais ícones femininos diversos, melhor.

“Quanto mais ícones femininos diversos, melhor.”

Vem novidades por aí?

LYYA: Vem single novo aí, vem novidades! Estou trabalhando com muita gente legal, e estou muito ansiosa para o que está vindo. Há algo mais pop ainda, mas muito verdadeiro também. E eu quero continuar trabalhando para tentar compreender melhor o tipo de artista que eu sou, se eu sou uma artista indie, uma artista pop ou uma artista-tudo. Eu sempre quis caber em tudo na minha vida, mas eu acho que agora eu procuro uma direção maior.

Indique uma outra artista ou banda feminina nacional.

LYYA: Eu gosto muito da Bea Duarte, que é uma TikToker e musicista brasileira. Ela é maravilhosa, toca milhões de instrumentos e está aí batalhando para mais minas estarem presentes na música. Eu acho que ela merece muita atenção.

Por último, compartilhe um ensinamento para que outras garotas possam fazer como você e quebrar tudo no rock.

LYYA: Eu acho que uma coisa que me empoderou muito na vida foi pegar uma guitarra e aprender a tocar. E também de ouvir o gênero com orgulho, de estar lá no meio, batalhando, se divertindo e quebrando tudo. Uma das coisas mais importantes para mim foi achar minas que pudessem estar do meu lado, para me guiar e me dar confiança para poder subir num palco e quebrar tudo. Então, eu acho que tocar um instrumento me inspira e inspira essas outras minas fodas a falar “Tamo junto”, sabe? Tudo que alguma mina precisar e que quiser, eu vou estar aqui, como tantas fizeram por mim.

“Eu acho que uma coisa que me empoderou muito na vida foi pegar uma guitarra e aprender a tocar.”

Confira abaixo o single “Fashion”, da LYYA:

Ei, fale conosco!

Você pode nos indicar uma música ou banda, relatar vivências e até desabafar sobre o que quiser. Ficaremos super felizes de te conhecer!

Leia também

LYYA

Conheça a trajetória de LYYA, jovem artista que adentra o mundo da música como cantora, compositora, multi-instrumentista e produtora.

Adrienne Reyes

Acompanhe a perspectiva de uma especialista acerca do papel das mulheres na música e quais as suas previsões para o futuro do rock feminino brasileiro.