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Karen Dió é natural de Santos e respira música desde criança. Aos nove anos, começou a tocar um teclado de brinquedo e, pouco tempo depois, seus pais a colocaram numa aula de piano. Com 13 anos, ela começou a aprender autodidaticamente violão e, desde então, tem tocado guitarra e baixo em diversos projetos. “Eu sempre fui considerada a ovelha negra da família. E quando eu era bem novinha, com uns 13 anos, surgiram duas grandes ídolas minhas que me fizeram querer fazer rock, que são a Pitty e a Avril Lavigne. Eu me identifiquei com elas, e por conta disso, com 13 anos eu comecei a tocar violão e a fazer as minhas próprias músicas”, explica.
Em 2011, Karen foi finalista do reality show de música brasileiro Ídolos. Atualmente, ela é vocalista e guitarrista rítmica da banda de rock paulistana Violet Soda. De acordo com Karen, a banda surgiu quando ela veio à São Paulo para gravar um projeto da sua carreira solo e começou a mostrar suas composições para o Murilo, o guitarrista da banda. “Eu mostrava pra ele e ele tinha uns comentários muito bons, que acrescentavam bastante. E aí a gente começou a montar um monte de música juntos e ele falou ‘Poxa, você não quer fazer uma banda?’”, explica. Ela também conta que tudo a sua volta a inspira, e que, na hora de compor, ela se sente livre para fazer o que quiser: “Viver me inspira e histórias de outras pessoas me inspiram. Eu sou uma pessoa que faz muitas perguntas, sou muito curiosa, então tudo acaba sendo muito interessante e intrigante e serve de inspiração pra mim”.
Ilustração de Julia Kawayumi. Foto: Reprodução.
Quais foram suas principais inspirações e referências desde o começo e quais são elas hoje em dia? Mulheres fazem parte disso?
Karen: As minhas principais inspirações, no começo, foram a Avril Lavigne e a Pitty. Depois passei por Paramore, e depois eu fui muito fã da Lzzy Hale, do Halestorm. Mas também sempre fui muito fã de alguns homens, como o Dave Grohl, do Foo Fighters, o Rivers, do Weezer e o Kurt, do Nirvana. Então, eu tenho muitas referências. Mas sim, muitas mulheres fazem parte das minhas inspirações e referências. Aliás, hoje eu só sou quem eu sou por causa dessas mulheres, que foram inspirações pra mim quando eu era mais nova.
“Hoje eu só sou quem eu sou por causa dessas mulheres, que foram inspirações pra mim quando eu era mais nova”.
Desde o começo da sua jornada na música, percebeu diferenças de tratamento entre você e seus colegas de profissão homens?
Karen: Com minha banda atual, Violet Soda, eu tive poucas situações em que percebi tratamento diferenciado. Eu devo ter tido muitas quando era mais nova, mas eu nunca percebi tanto, porque eu ainda era machista, sabe? Eu ainda estava aprendendo o que era feminismo, então eu não lembro de ter passado por nenhuma situação assim. Mas eu tenho absolutamente certeza que aconteceu comigo, eu só ainda não entendia o que era.
O que você considera como luta feminista no meio da música?
Karen: Eu acho que o próprio ato de ser musicista, ser mulher no meio da música. Todos os mercados de trabalho são predominantemente feitos por homens ou liderados por homens. Então, ser uma mulher, todos os dias, independente da área, eu acredito que seja uma luta feminista, e na música não poderia ser diferente. O fato de eu ser uma mulher e ter a minha banda já pode considerado uma luta feminista, e também eu ter o direito de cantar o que eu quiser, da forma que eu quiser, com o cabelo que eu quiser, vestida do jeito que eu quiser, sabe?
“Ser uma mulher, todos os dias, independente da área, eu acredito que seja uma luta feminista, e na música não poderia ser diferente”.
Foto: Reprodução.
No seu ponto de vista, como funciona a questão do rock feminino hoje em dia? Acha que é algo que está crescendo em número, que tem sido mais respeitado pelo público e pela mídia ou que chegou a um ponto de estagnação?
Karen: Eu acho que, nos últimos anos, a gente tem tido uma melhora de visibilidade, com relação às mulheres na música e no rock. Eu senti um crescimento muito grande antes da pandemia, e eu acredito que a gente não esteja num momento de estagnação. A gente está num momento, na verdade, de crescimento e de progresso, mas é uma coisa que é um trabalho diário e não que vai ser consertada de um dia para o outro.
Você já sofreu preconceito por ser uma mulher que gosta e que faz rock?
Karen: Não, nunca sofri preconceito por gostar. Mas já ouvi comentários, de meninas mesmo, tipo ‘Ai, eu não gosto de menina cantando’, coisas assim. E talvez eu tenha sofrido preconceito por fazer rock em algum ponto. Mas não fui questionada, talvez tenha sido sorte.
“Não fui questionada, talvez tenha sido sorte”.
Você possui algum ritual para amenizar preconceitos e assédios diários no meio da música?
Karen: Olha, eu não tenho recebido tanto preconceito ou assédio, pelo menos nos últimos anos, então não sei dizer se é algo que faço automaticamente, porque aprendi com a vida, ou se as pessoas simplesmente estão me respeitando. Às vezes, aparece um comentário bem desagradável no meu inbox, mas aí eu ignoro, sabe? Nem faço questão de responder. Ainda mais quando eu vejo que é uma pessoa muito nova, que não tem muito chão. Se é uma pessoa insistente e aí ela quer estar pentelhando, aí às vezes pode ser que eu acabe respondendo. Ultimamente, eu tenho respondido, de forma bem educada, porém incisiva, bem direto ao ponto. Mas geralmente eu ignoro a pessoa, ou bloqueio ou excluo. Não perco o meu tempo com isso.
O que você vê para o futuro da Violet Soda? Tem novos projetos no forno?
Karen: Na Violet, a gente tem uma missão muito grande de tocar lá fora, por isso que a gente canta em inglês. A gente não tem um futuro definido, porque tudo foi cancelado na pandemia. Os projetos no forno são os projetos que a gente tá lançando agora, que, no caso, é o Unplugged. A gente tá no processo de lançamento dele, que tá muito massa e muito bonito. A gente também tá muito feliz com a recepção do EP, o [Unplugged] Volume 1, e ansiosos para os próximos, para ver o que o pessoal acha. Mas está sendo muito massa, a gente está muito feliz com o lançamento.
Indique uma música de outra artista ou banda feminina nacional.
Karen: Eu vou indicar a banda Demonia, de punk feminista. As meninas são de Natal e eu adoro elas. São pessoas muito queridas.
Por último, dê uma dica ou ensinamento para garotas que querem fazer como você e quebrar tudo no rock.
Karen: A dica que eu posso dar pra você que está começando, independente do estilo que você esteja tocando, é: comece com o que você tem. A gente tem uma mania de querer o clipe mais foderoso já na primeira vez. Mas, às vezes, você não tem uma preparação suficiente para fazer uma música, sabe? Às vezes, você está começando a compor agora, e o começo é difícil, a gente está se encontrando ainda. Então faça com o que você tem agora e comece agora, se dedique, estude. Eu sempre vejo os meus vídeos e o que eu posso fazer pra melhorar, o que que eu faço que funciona e o que que eu faço que não funciona. Se auto avalie, mas comece agora e comece com o que você tem. E principalmente: se divirta. Faça o que você realmente gosta, o que você realmente ama, porque só assim dá para tornar tudo mais leve. Se você está tentando fazer algo pra tentar emplacar, você já está começando errado. Talvez as pessoas não vão te ver no começo, talvez demore um pouco, porque viver de música é um processo longo. Até hoje eu tô tentando. Mas se você faz uma coisa na qual você se diverte, é muito melhor. O processo que, às vezes é bem cansativo, se torna muito mais leve. Então, faça algo que você ama, comece agora, faça com o que tem, e sempre se assista, para se aperfeiçoar cada vez mais.
“Se auto avalie, mas comece agora e comece com o que você tem. E principalmente: se divirta”.
Confira abaixo a música “Girl!”, da Violet Soda:
Ei, fale conosco!
Você pode nos indicar uma música ou banda, relatar vivências e até desabafar sobre o que quiser. Ficaremos super felizes de te conhecer!
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